Friday, October 1, 2010

Relato do parto da Isabella







Enquanto eu me preparava para o parto da Isabella, li muuuuuitos relatos de parto, que foram cruciais para eu entender o meu trabalho de parto (já que nunca tinha parido antes) e me ajudaram a levar tudo de uma maneira bem tranquila. A minha preparação para o parto merece um post à parte, por isso vou me restringir ao parto em si, o que acho que já vai resultar num post gigante.

Então vamos lá. Senta que lá vem a história:

A data prevista para o parto era dia 1 de maio, sábado. Na quinta feira anterior foi mudança para lua cheia, quando dizem que as maternidades enchem. Não sei bem o fundamento da relação da lua com os partos, mas que tem um fundo de verdade tem, porque a maternidade bombou naqueles dias. E foi na quinta-feira, quando olhei para aquela lua mega gigante no céu que as contrações começaram, ainda que de leve. A sensação era de cólicas menstruais um pouco mais fortes, mas constantes. Como pessoa "organizada" (para não dizer o contrário, hehe), lembrei de que não tinha comprado a parte de cima do biquini para o possível parto na água e nem o cronômetro para calcular os intervalos e duração das contrações, então lá fui eu e Marc no Wall Mart na quinta à noite mesmo para comprar o que estava faltando. Lembrando agora, devo admitir que foi inusitado eu no meio do Wall Mart já sentindo as contrações tentando achar o cronômetro (enfim achei na sessão esportiva). Ainda antes de dormir lembrei de que não havia feito minha trilha sonora para o parto!! Como assim?!!! Sem trilha sonora não sou nada!!Lá fui eu ficar fazendo downloads até altas horas. O carro chefe da minha trilha sonora foi a soundtrack do filme "Le Premier Cri". Que trilha sonora é aquela?!! Foi inspiração pura! Aliás, o filme também é interessante (tirando algumas aberrações como parto com golfinhos, parto no mar, parto de primigesta desassistido...essas coisas).

Quando voltei do Wall Mart lembro que olhei mais uma vez aquela mega lua e pedi para Nossa Senhora para dar uma segurada no meu parto porque eu tinha um super medo de acordar de madrugada já parindo tendo que correr para o hospital. Sei lá...acho que tudo de madrugada é mais assustador...O fato é que fui tentar relaxar e dormir o máximo que pudesse, pois sabia que precisaria de toda energia possível para a hora H. As contrações ao longo da noite vinham com intervalo de 10 minutos. Eu estava um pouco assustada, mas cada vez que eu olhava o relógio e via que a hora avançava, mais eu comemorava porque iria amanhecer, ou seja, eu não teria que acordar o Marc para ir para o hospital.

Quando finalmente o dia amanheceu eu estava muito feliz. Falei para o Marc que as contrações estavam vindo com tudo e falei para ele se preparar, daí ele resolveu algumas coisas no trabalho e veio logo pra casa (não sem antes ligar para meio mundo para falar que eu já estava em trabalho de parto, hehe....típico de meu querido marido....se pudesse colocar num outdoor ele colocava :)). Procurei ficar o mais tranquila possível, conversei com algumas amigas, segui fazendo as coisas normais e cronometrando as contrações. Liguei para a minha grande amiga e parteira Lia, que mora lá na Paraíba. Esta conversa foi crucial para que eu ficasse em paz durante todo o trabalho de parto até a fase expulsiva. Às 13:30 daquele dia eu teria consulta com minha parteira, então nem me preocupei em ligar para avisar das contrações nem nada. Cheguei lá já no sufoco, ela viu o cronômetro e achou graça. Realmente ficar muito presa a cronômetro acaba gerando uma ansiedade porque cada trabalho de parto é único, daí parei de ficar tão neurótica calculando cada contração. A minha parteira perguntou se queria que eu examinasse a minha dilatação, mas preferi que não, afinal a Isabella viria quando ela quisesse e não seria o fato de saber com quantos centímetros eu estava que iria mudar alguma coisa. Conforme falei, trabalho de parto não tem regra: minha cunhada ficou uma semana com 4 centímetros de dilatação, por exemplo. A Isabella poderia nascer dentro de algumas horas ou dentro de alguns dias, mas cá entre nós...eu sabia que daquela noite não passava porque as contrações estavam vindo com tudo.

Voltei pra casa e enchi a banheira. Já eram umas 3 da tarde. Apesar de ter contratado uma doula, não achei que fose hora de chamá-la. Preferi ficar sozinha, concentrada em cada contração. Depois o Marc me falou que nem ficou sabendo que as contrações estavam tão intensas, já que eu estava tão calma. Bem...calma eu estava mesmo, mas as dores já estavam começando a ficar bem punks. Eu havia me preparado bastante para aquele momento, sabia o que estava acontecendo com meu corpo. Não tinha porque ficar nervosa. Aliás, isso só atrapalharia tudo. O tempo foi passando, as contrações duravam cerca de 45 segundos com intervalos de 6, 8 minutos...Não estavam muito regulares. Liguei para minha parteira Julie e ela falou para eu continuar na banheira e ligar novamente quando as contrações chegarem no intervalo de 5 minutos. Quando isso aconteceu, liguei pra ela, que falou para esperar até o intervalo de 3 minutos, pois no caso de primigesta o trabalho de parto tende a demorar mais (não é regra, mas é o mais comum). Jantei com o Marc, voltei mais um pouco para a banheira, pedi para cronometrar minhas contrações. E eu lá com meu Ipod na banheira, haha. Não...sério...CRUCIAL minha trilha sonora!!! Me ajudou a manter super focada!

Às 7 da noite eu resolvi ligar para minha doula porque aguentar sozinha estava brabíssmo. Liguei pra ela, mas no fim das contas não quis mais doula. Pedi para o Marc ligar dizendo que não queria mais. Tadinha...ela já estava na esquina...vai entender cabeça de grávida. Mas falando sério, doula é uma coisa muito pessoal e no meu caso não fez falta nenhuma. Se eu tivesse uma doula com a qual eu tivesse sintonia, confiança, intimidade, teria sido maravilhoso, mas como não era o caso, não fez falta alguma. A minha doula na prática foi a Lia, para a qual eu havia ligado mais cedo e que, do Brasil, foi a minha força durante o parto. A usa voz amiga e tudo que havia falado pra mim mais cedo me deram toda segurança que eu precisava. Eu não me senti sozinha em momento algum durante o trabalho de parto. Senti que precisava me concentrar, precisava daquele momento a sós com minha filha. Queria sentir aqueles últimos momentos daqueles 9 meses em que ela esteve dentro de mim, crescendo, compartilhando uma intimidade que jamais se repetiria.

Quando eram umas 9 horas da noite, resolvi sair da banheira para tentar dormir um pouco, o que foi impossível porque as contrações vinham muito fortes. Assim como havia ouvido falar antes, a sensação era de ondas: eu ia sentido que estava chegando mais uma lá longe e ia ficando mais forte, mais forte, até que chegava ao ápice depois ia embora devagarinho. Das 9 às 11 da noite, pedi para o Marc ficar comigo. Quando vinha a contração eu puxava lençol da cama, roupa do Marc, o próprio Marc...o que tivesse na frente :). Às 11:15pm eu pedi para o Marc ligar para minha parteira para dizer que eu precisava de alguma ajuda porque estava brabo aguentar sozinha. Daí ela falou para irmos para o hospital. Pedi para o Marc colocar as malas dentro do carro, não esquecer máquina, filmadora, notebook e lá fomos nós.

No caminho até o hospital vomitei, as contrações ficaram muito, muito intensas mesmo, mas chegamos. Chequei no relógio do carro e era quase meia noite: Isabela iria nascer em maio, mês de Nossa Senhora. Quando chegamos no estacionamento do hopital foi engraçado. Ao sair do carro veio uma contração, daí me apoiei no muro até ela passar. Vendo a minha situação, os seguranças vieram trazer uma cadeira de rodas. Eu toda sem graça até sentei, mas não tem coisa pior do que ficar sentada durante uma contração! O que eu fiz? Larguei a cadeira pra lá e praticamente saí correndo hospital adentro para chegar o mais rápido possível no terceiro andar, onde ficava a maternidade, antes da próxima contração. Os caras não devem ter entendido nada: num minuto eu não conseguia me mover, no minuto seguinte saio correndo pelo hospital! kkk

Quando cheguei na triagem da maternidade a tampão terminou de sair e a partir daí as contrações foram ficando mais e mais intensas e menos espaçadas. Ligaram para a minha parteira e quando ela me checou eu já estava com 7cm. Ela perguntou se eu queria alguma medicação e eu disse que não precisava (estava morrendo neste momento, mas aguentei firme). Fomos para o quarto e quando já iam enchendo a banheira ( o parto iria ser na água, mas não houve tempo. Fica para o próximo, hehe) a parteira viu que eu já estava com vontade de fazer força. Ela checou novamente e eu já estava com 9 cm. Daí ela abriu o centímetro que restava com o dedo (dilatação completa são 10 cm)e comecei a fazer força. As enfermeiras insistiam para que eu deitasse na cama, mas eu sabia que não seria o melhor para mim e para Isabella. Ainda bem que eu tinha a minha super parteira alí do meu lado e ela interviu. Depois de algumas contrações (não sei ao certo quantas)e de alguns "push, push, push", eu fui me empolgando porque sabia que dentro de bem pouco tempo nós conheceríamos nossa filhinha. Teve uma hora, a chamada "fase de transição", em que eu achava que não iria aguentar, mas tendo lido tanto sobre o assunto eu sabia que essa fase iria chegar e tentei me concentrar e esquecer essa sensação. Mas eu me lembro de ter perdido a concentração em alguns momentos e chegado para a parteira:" Eu vou morrer!!!" E ela: " Não vai não!". rsrs

A propósito, quando vinham as contrações, coloquei o Marc para "trabalhar". Ele ficava pressionando a minha lombar. Enquanto isso, a parteira foi colocando travesseiros e panos embaixo de mim, para o caso da Isabella escorregar da mão dela e cair no chão ou coisa do gênero. Quando a parteira falou que já estava vendo a cabecinha dela e chamou o Marc para ver também, aí eu fui ao delírio! Perguntei para o Marc qual era a cor do cabelo dela e ele me disse que era pretinho e que ela tinha muito cabelo. Nossa...aí arrumei força sabe lá de onde e empurrei com tudo por mais algumas contrações até que senti Isabella escorregar por dentro de mim.
A parte expulsiva eu não considerei tão difícil quanto à longa fase latente porque eu sabia que naquele momento faltava muito pouco para eu ter Isabella nos meu braços. Eu me vizualizei no sprint final das competições de remo e saí fazendo força. Aliás, devo admitir que minha experiência no remo me ajudou muitíssimo, tanto fisicamente quanto psicologicamente, principalmente na questão da tolerância a dor. Hoje em dia, pouco se lida com a dor. A dor assusta. O remo é um esporte que envolve a dor diariamente, te leva a conviver com a dor e aceitá-la como parte de algo maior, como a vitória no caso de uma competição ou nascimento de uma filha, no caso do parto.

Eu não cheguei a ficar esgotada durante a fase final do trabalho de parto (apesar das 30 horas total) porque eu procurei relaxar bastante na banheira e comer e beber bem durante o dia, então quando chegou à noite eu estava bem diposta, ainda que no finalzinho tivesse vomitado o que havia comido.
O fato de eu não ter ido para o hospital na fase latente ajudou muito mesmo. Eu diria que foi crucial para eu ter conseguido ter tido o parto natural porque é quase impossível não perder a concentração quando se chega num hospital e isso dificulta bastante.

Voltando ao parto: a parteira, que estava abaixada, pegou a Isabella e a passou por debaixo das minha pernas e então a peguei no colo, com o cordão ainda. A emoção deste momento? Aí não tem relato que descreva. Eu que nem sabia pegar bebê, lá estava eu com minha meninha nos meus braços. No meio daquela tempestade hormonal eu quase esqueci que ainda faltava a placenta! Daí sim, fui pra cama e a parteira tirou a placenta. O tempo todo Isabella ficou no meu colo. Minutos depois nos preparamos para a primeira mamada. Aliás, nos preparamos não, porque Isabella estava mais que preparada! Já chegou procurando meu peito como se fosse mestra no assunto. Foi no estilo: "show me the milk!". Eu confesso que fiquei impressionada com tamanha eficiência, hehe! Eu sempre escutava que bebês de parto natural nascem bem espertinhos, mas nunca pensava que seria tanto:).

Para finalizar, a parteira deu os pontos na minha laceração, tomei banho enquanto o super papai a segurava. Depois disso ficamos lambendo a cria e não desgrudamos mais da nossa pequenininha (aqui não tem berçário, então Isabella não saiu do meu lado e agradeço muito por isso).

Isabella nasceu dia 1 de maio, às 1:31 am.

Fotos da grande chegada:http://picasaweb.google.com/dianaasilva5/Isabella#

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